terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O MODERNISMO EM PORTUGAL

O início do século XX é marcado em Portugal pela permanência do naturalismo nas artes plásticas (José Malhoa, Columbano, Carlos Reis, Alberto de Sousa) protegido e apreciado mesmo pela burguesia republicana. A partir de 1911, as mudanças políticas alteram o panorama cultural e imprimem uma dinâmica de mudança a todos os níveis da arte e da cultura. 
O cosmopolitismo e a renovação do espírito e da visão do mundo baseou-se numa visão crítica dos valores e gostos da burguesia - é o modernismo. 

1º Modernismo 

Marcado por artistas como Almada Negreiros, Stuart Carvalhais, Jorge Barradas, Amadeu de Souza Cardoso ou António Soares. Em vez da volumetria adopta-se o plano e traçado geométrico e esquemático. Temas de sátira política, social e anticlerical. Ambientes urbanos e retratos psicológicos, esbatimento da perspectiva em duas dimensões, cores claras e garridas, simplificação das formas. 

A 1ª Guerra fez regressar a Portugal Santa Rita pintor, Eduardo Viana, Amadeu de Souza Cardozo.
Em Lisboa surgiu a revista Orpheu com Almada Negreiros, Santa Rita, Pessoa, José Pacheco e Sá-Carneiro adoptando a tendência nascente do Futurismo. No Porto Eduardo Viana, Souza Cardoso e Delaunay. 

Jorge Barradas 

O Futurismo adaptou-se ao dinamismo cultural republicano. Rompendo com o passado e a tradição, o imobilismo e saudosismo exaltava-se a raça latina, o orgulho, a acção e o movimento. O manifesto Anti-Dantas foi um documento marcante reagindo contra as críticas que provinham das facções culturais mais conservadoras. Em 1917 surgiu o Ultimatum futurista às gerações portuguesas no século XX e o número único da revista Portugal Futurista com pinturas de Amadeu, Almada, Santa Rita e textos de Pessoa, Sá Carneiro, Marinetti e outros. 

2º Modernismo 
Jorge Barradas 

Nos anos 20 a 30 decorreu a vaga do segundo modernismo. 
José Régio, João Gaspar Simões, Adolfo Casais Monteiro como escritores e pintores como Almada Negreiros e Eduardo Viana, Dórdio Gomes, Mário Eloy, Carlos Botelho, Sarah Afonso, Abel Manta, Vieira da Silva, revistas Presença e Contemporânea, Ilustração Portuguesa, Domingo Ilustrado, ABC, Ilustração, Sempre Fixe. A oposição dos sectores conservadores e do governo manteve-se, por isso os artistas procuraram impor-se em locais como cafés, clubes e exposições individuais.  
António Pedro será uma figura importante no grupo surrealista português nascido em oposição à cultura do Estado Novo. Organizou a exposição dos Artistas Modernos Independentes reagindo contra a tentativa de arregimentação dos modernistas portugueses que António Ferro, na altura director do Secretariado da Propaganda Nacional, tencionava fazer. 

Importa destacar três casos em particular:

Amadeu de Souza Cardoso

Rumou a Paris desde cedo procurando na pintura a realização como artista. Encontra-se com Delaunay e outros  como Juan Gris e Modigliani participando em exposições célebres como o Armory Show de Nova Iorque. Regressa a Lisboa em 1914 e encontra a resistência dos sectores mais tradicionais. Participa nas revistas Orfeu e Portugal Futurista. Experimenta todas as tendências desde o cubismo ao dadaísmo passando pelo expressionismo e futurismo. Morreu de pneumónica em 1918. 




Almada Negreiros 


Foi o mais destacado e conhecido dos modernos. Saiu do Colégio de Jesuítas de Campolide. Inicia-se na pintura e participa no salão dos Humoristas de 1912. Desenvolve com Pessoa o Orpheu e Portugal Futurista desenvolvendo actividade literária em textos de intervenção, panfletos, poemas e novelas como o Manifesto Anti-Dantas. Em 1919 vai para Paris, regressa e desiludido parte para Madrid onde desenvolve a técnica do Mural até 1933. Em 1954 pinta o retrato de Fernando Pessoa. Morreu em 1970. 




Eduardo Viana

Foi um dos nomes destacados da segunda fase do modernismo português. Em 1905 partiu para Paris com Manuel Bentes procurando actualizar-se no convívio com os pintores da moda. Viaja pela Europa e conhece a pintura de Cézanne que o influencia. Regressa em 1915 com os Delaunay e fixa-se no norte onde desenvolve a sua técnica. Aborda o cubismo, matizando-o com cores alegres e cheias de luz. Regressa à figuração volumétrica que sempre o marcou com um toque oitocentista contrariado apenas pela utilização da cor. 



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